O Subsíndico

I. Prefácio

    São três horas da manhã e não consigo dormir. Viro de um lado e nada, viro do outro e nem um pouco de sono. Desisto. Vou até a cozinha, abro a geladeira e bebo um copo de leite frio. Pego meu maço de cigarros e vou para varanda. Reparo nas pouquíssimas janelas acesas, são tão poucas que posso até contá-las nos dedos. Acendo o cigarro. Olho para cima e lá está minha companheira, em sua fase mais bonita. Coloco um disco do Mingus na vitrola.
   Vejo um carro entrando na garagem. Quem será, de onde veio? Talvez eu pegue meu carro e saia rodando por ai. Não saio, acendo outro cigarro. Aos vinte me imaginava a essa altura da vida casado, com filhos e um bom emprego. Porém não só estou sozinho e solitário como ainda tenho uma dívida que me acompanhará até que a morte nos separe. De que me serve um diploma de advogado se só ganho uma merréca com a desgraça de recém-casados divorciados. Me sinto como um abutre, catando cacos de vidro das relações alheias. Mais uma janela se apaga e mais um cigarro eu acendo.

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